O Muro Eterno da Oração Respondida (Eternal Wall of Answered Prayer), idealizado há anos, finalmente começa a sair do papel. O anúncio da construção marca um capítulo decisivo na visão ousada de Richard Gamble, cuja paixão por Jesus sempre foi desmedida.
Há duas décadas, por exemplo, ele acreditou ter recebido de Deus a missão de carregar uma cruz de madeira de quase três metros por mais de 120 quilômetros durante a Semana Santa, que antecede a Páscoa. E aceitou o desafio.
Depois daquela maratona exaustiva em 2004, ele recebeu uma visão ainda maior e mais ousada: erguer um monumento que reunisse um milhão de histórias sobre como Deus respondeu às orações.
Na semana passada, Gamble, de 56 anos, deu início à construção dessa visão: um marco arquitetônico com 51 metros de altura, projetado para se tornar um dos maiores monumentos cristãos da Inglaterra – talvez do mundo.
Para comparação, o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, tem 30 metros de altura. A inauguração está prevista para 2028.
Avaliado em 45 milhões de libras (cerca de 288 milhões de reais), foge dos símbolos cristãos tradicionais – como cruz, peixe, cordeiro ou imagens de Jesus.
Em vez disso, será formado por uma imensa faixa branca em forma da fita de Möbius, quase do tamanho de um campo de futebol.
Sobre essa estrutura, serão dispostos um milhão de pequenos tijolos retangulares, cada um associado a uma história de oração atendida, acessível por meio de um aplicativo móvel.
“Vivemos em um país onde o cristianismo foi praticamente colocado em silêncio”, disse Gamble em entrevista nos escritórios do Eternal Wall, perto do local da construção, na semana passada.
“Construir algo tão grande e assumidamente cristão… acho que ninguém acreditava que isso realmente aconteceria.”
Para Gamble, a inauguração é, por si só, fruto de 21 anos de oração intensa.
Ex-desenvolvedor de software, plantador de igrejas e ex-capelão do Leicester City Football Club, ele conheceu o cristianismo aos 20 anos, após visitar uma igreja carismática – experiência que transformou sua vida imediatamente.
Abandonou a bebida e os jogos, matriculou-se em uma faculdade bíblica e, depois de anos no ministério, concluiu que não tinha perfil para ser pastor.
Mas ele nunca abriu mão de suas convicções cristãs. Em um país onde apenas 21% das pessoas afirmam orar diariamente, segundo estudo do Pew Research Center, Gamble buscava uma forma de mostrar o que considera ser a atuação ativa de Deus na vida das pessoas.
Segundo ele, Deus foi respondendo às suas orações em etapas. Um dos primeiros sinais veio quando, após uma apresentação em uma conferência na Igreja Bethel, em Redding, Califórnia, em 2015, uma mulher se aproximou e disse: “Deus quer que você saiba que há uma terra celestial reservada para você.”
O terreno foi doado por Andrew Edmiston, filho de Lord Robert Edmiston, um empresário bilionário britânico que fundou a instituição de caridade Christian Vision. Além disso, cerca de 22 mil pessoas também ajudaram a viabilizar o projeto.
O Muro Eterno da Oração Respondida será erguido às margens da M6, a mais longa rodovia do Reino Unido, próxima a Birmingham. Visível a quase 10 quilômetros de distância, o monumento deve atrair a atenção de milhares de motoristas e passageiros todos os dias.
Obra de arte
O que os visitantes verão será um design totalmente fora do comum.
Para dar vida à sua visão, Gamble buscava algo inovador, uma verdadeira obra de arte.
Ele apresentou a ideia ao Royal Institute of British Architects, que lançou um concurso global em 2016. Foram recebidas 133 propostas de 28 países, e o projeto vencedor – inspirado na fita de Möbius – veio de uma empresa britânica.
O projeto foi aprovado pelo Conselho Municipal de North Warwickshire em 2020. Para Gamble, mais um sinal de oração atendida.
Segundo Mathew Guest, professor de sociologia da religião na Universidade de Durham e pesquisador sobre evangélicos no Reino Unido, a neutralidade do design provavelmente contribuiu para essa aprovação.
“Ter simbolismo religioso no Reino Unido além da arquitetura tradicional das igrejas pode ser bastante controverso”, disse Guest.
“Em um mundo polarizado, onde há muitas tensões entre grupos religiosos, isso pode ser visto como uma possível provocação. E me pergunto se essa não é, em parte, a razão para construí-lo dessa forma.”
Cristianismo em declínio
O cristianismo está em declínio no Reino Unido. Entre 2010 e 2020, a proporção de cristãos caiu para 49%, enquanto os sem religião subiram para 40%, segundo o Pew Research. Muçulmanos representam cerca de 6,5% da população (3,9 milhões), conforme o censo de 2021.
Segundo Guest, igrejas evangélicas independentes, incluindo grupos carismáticos e pentecostais, podem ser o único segmento cristão em crescimento no Reino Unido.
Gamble e sua família frequentam a Chroma Church, uma congregação evangélica em Leicester.
Há anos, Gamble e sua equipe vêm reunindo histórias de orações atendidas, começando pela Bíblia.
1 milhão de testemunhos
A meta é alcançar um milhão de testemunhos – em texto (até 500 palavras) ou vídeo (até 3 minutos) – relatando momentos em que Jesus respondeu orações, seja por cura, emprego, libertação de vícios, reconciliação ou nascimento de uma criança. Apenas orações cristãs serão incluídas.
Cada testemunho será vinculado a um tijolo do monumento, do tamanho de um cartão de visita, e armazenado em um banco de dados digital. Os visitantes poderão usar um aplicativo que identifica sua localização para ler, ouvir ou assistir às histórias diretamente no celular.
A proposta reconhece que nem todas as orações recebem um “sim” como resposta. Às vezes, é “espere”; outras vezes, é “não”.
Para Gamble, o essencial é manter a conversa com Jesus. Ele sabe que nem todos os visitantes sairão convencidos, mas espera despertar neles o desejo de um encontro com Cristo.
“É como se existisse um mundo secreto no Reino Unido onde ninguém sabe que Deus está vivo e respondendo às orações”, disse Gamble. “Ninguém fala sobre isso.”
Ele aposta que um monumento – bem diferente de uma igreja, que hoje atrai tão poucos – possa se tornar o catalisador que inspire as pessoas a buscar a fé.
“Se alguém vier, olhar e disser: ‘Ótima peça de arquitetura, mas um monte de bobagem’, isso já é uma vitória, porque essa pessoa saiu de um ambiente secular e considerou elementos da mensagem cristã”, disse ele.
